quarta-feira, 18 de setembro de 2019
"MESSIAS, UNGIDO COM O ESPÍRITO SANTO"
Obs: Imagem extraída do site: www.deusunico.com
"MESSIAS, UNGIDO COM O ESPÍRITO SANTO"
Realizou-se também cabalmente a missão do Messias, isto é, daquele que recebera a plenitude do Espírito Santo, em favor do povo eleito por Deus e de toda humanidade. "Messias", literalmente, significa"Cristo", isto é, "Ungido"; e na história da salvação significa "Ungido com o Espírito Santo". Esta era a tradição profética do Antigo Testamento. Atendo-se a ela, Simão Pedro, em casa de Cornélio, diria: "Vós conheceis o que aconteceu por toda a Judéia ...depois do batismo pregado por João: como Deus ungiu com o Espírito Santo e com o poder a Jesus de Nazaré" (Atos 10,37).
Destas palavras de Pedro, e de muitas outras semelhantes, (Lucas 4,16- 21; 3,16, 4,14 e Marcos 1,10) é preciso remontar, antes de mais nada, à profecia de Isaías, algumas vezes chamada "o quinto Evangelho", ou então "o Evangelho do Antigo Testamento". Isaías, fazendo alusão à vinda de um personagem misterioso, que a revelação neotestamentária identificará com Jesus, liga a sua pessoa e a sua missão a uma ação particular do Espírito de Deus - Espírto do Senhor. São estas as palavras do Profeta: "Despontará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará da sua raiz. Sobre Ele pousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de conselho e de fortaleza, Espírito de conhecimento e de temor de Deus, e no temor do Senhor está a sua inspiração" (Isaías 11,1-3).
Este texto é importante para toda a pneumatologia do Antigo Testamento, porque constitui como que uma ponte entre o antigo conceito bíblico do "Espírito", entendido primeiro como um "sopro carismático", e o "Espírito" como pessoa e como dom, dom para a pessoa. O Messias a estirpe de Davi ("do tronco de Jessé") é precisamente essa pessoa, sobre a qual "pousará" o Espírito do Senhor". É evidente que, neste caso, não se pode falar ainda da revelação do Paráclito; todavia, com essa alusão velada à figura do futuro Messias, abre-se, por assim dizer o caminho que, uma vez demandado, vai preparando a revelação plena do Espírito Santo na unidade do Mistério Trinitário, a qual se tornará manifesta, finalmente, na Nova Aliança.
Esse caminho é o próprio Messias. Na Antiga Aliança a unção tinha-se tornado o símbolo externo do dom do Espírito. O Messias, bem mais do que qualquer outro personagem ungido na Antiga Aliança, é o único grande ungido pelo próprio Deus. É o ungido no sentido de possuir a plenitude do Espírito de Deus, Ele mesmo será também o mediador para ser concedido este Espírito a todo o povo. Com efeito, são do mesmo profeta estas outras palavras: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor consagrou-me com a unção; enviou-me a anunciar a Boa Nova aos pobres, pensar as feridas dos corações quebrantados, proclamar a redenção para os cativos, a libertação para os prisioneiros, a promulgar o Ano de Misericórdia do Senhor" (Isaías 61,1). O Ungido é também enviado "com o Espírito do Senhor": "Agora o Senhor Deus me envia juntamente com seu Espírito" (Isaías 48,16).
Segundo o Livro de Isaías, o Ungido e o Enviado juntamente com o Espírito do Senhor é também o eleito Servo do Senhor, sobre o qual repousa o Espírito de Deus: "Eis o Meu Servo que Eu amparo o Meu Eleito, no qual minha alma pôs a sua complacência; fiz repousar sobre Ele o Meu Espírito" (Isaías 42,1).
Como é sabido, o Servo do Senhor é revelado no Livro de Isaías como o verdadeiro homem das dores: O Messias que sofre pelos pecados do mundo (Isaías 53, 5-8). E, simultaneamente, é Ele mesmo aquele cuja missão produzirá para toda a humanidade verdadeiros frutos de salvação: "Ele levará o direito às nações..."(Isaías 42,1) e torna-se-á "a aliança do povo à luz das nações ..." (Isaías 42,6); "para que leve a minha salvação até os confins da terra" (Isaías 49,6).
Porque: "O meu Espírito, que desceu sobre ti e as palavras que te pus na boca não se apartarão dos teus lábios nem da boca da tua descendência nem da boca dos descendentes dos teus descendentes, diz o Senhor, desde agora e para sempre" ( (Isaías 59,21).
Os textos proféticos que acabam de ser apresentados devem ser lidos por nós à luz do Evangelho; o Novo Testamento, por sua vez, adquire um esclarecimento particular da admirável luz contida nestes textos veterotestamentários. O profeta apresenta o Messias como aquele que vem com o Espírito Santo, como aquele que possui em si a plenitude deste Espírito; e , ao mesmo tempo, é portador dEle para os outros, para Israel, para todas as nações, para toda a humanidade. A plenitude do Espírito de Deus é acompanhada por múltiplos dons, os bens da salvação, destinados de modo particular aos pobres e aos que sofrem - a todos aqueles que abrem os seus corações a esses dons: isso acontece, algumas vezes mediante as experiências dolorosas da própria existência; mas, primeiro que tudo, por aquela disponibilidade interior que vem da fé. O velho Simeão, "homem justo e piedoso", com o qual estava o Espírito Santo teve a intuição disso, no momento da apresentação de Jesus no Templo, quando vislumbrou nele a "salvação preparada em favor de todos os povos" à custa do grande sofrimento - a cruz - que Ele deveria vir a abraçar juntamente com sua mãe (Lucas 2,25-35). Disso tinha também, e ainda melhor intuição Maria, que havia concebido do Espírito Santo (Lucas 1,35), quando meditava no seu coração os "mistérios" do Messias, ao qual estava associada (Lucas 2,19-51).
É conveniente sublinhar, aqui neste ponto, que o "Espírito do Senhor", que "pousa" sobre o futuro Messias, é, claramente , antes de mais nada um dom de Deus para a pessoa deste Servo do Senhor. Mas Ele não é uma pessoa isolada e independente, pois opera por Vontade do Senhor, com o poder da sua decisão ou escolha. Se bem que à luz dos textos de Isaías a obra salvífica do Messias, Servo do Senhor, inclua a ação do Espírito que se desenrola mediante Ele próprio, todavia no seu contexto veterotestamentário não é sugerida a distinção dos sujeitos ou das pessoas divinas, tais como subsistem no Ministério Trinitário e serão reveladas depois do Novo Testamento. Quer em Isaías, quer em todo Novo Testamento, a personalidade do Espírito Santo acha-se completamente escondida: escondida na revelação do único Deus, bem como no anúncio profético do futuro Messias.
No início da sua ativdade messiânica, Jesus Cristo socorrer-se-á deste anúncio contido nas palavras de Isaías. Isso aconteceria na cidade de Nazaré, onde Ele tinha vivido trinta anos de vida, na casa de José, o carpinteiro, ao lado de Maria, sua mãe. Quando lhe foi dada a ocasião de tomar a palavra na sinagoga, tendo aberto o Livro de Isaías, encontrou a passagem em que está escrito: "O Espírito do Senhor está sobre mim; por isso me consagrou com a unção"; e depois de ter lido este texto, disse aos presentes: "Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura que acabais de ouvir" (Lucas 4,16-21 e Isaías 61,1). Deste modo confessou e proclamou ser aquele que "foi ungido" pelo Pai, ser o Messias, isto é, aquele no qual tem a sua morada o Espírito Santo como dom do próprio Deus, aquele que possui a plenitude deste Espírito, aquele que marca o "novo princípio" do dom que Deus concede à humanidade no Espírito Santo.
Autor: João Paulo II
Obs: Informações extraídas do Livro: "SOBRE O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA E DO MUNDO" - Carta Encíclica Dominum Et Vivificantem, Autor: João Paulo II, 2ª edição, Editora: Edições Loyola, São Paulo, SP, Ano: 1987, páginas: 19, 20, 21 e 22.
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